9.11.10

AGRIDOCE - SIMONE O. MARQUES


Adolescente, amável, intrigante e tudo. Mais uma prova de que a nossa literatura fantástica brasileira está em seus melhores momentos. Por uma bela representação, Simone O. Marques. E mais uma história para o mito dos vampiros Agridoce não é apenas mais um livro de vampiros, é uma obra repleta de aromas, sabores e sensualidade, que transcorre em ritmo viciante e irresistível,mantendo os leitores presos até a última página. Os personagens fazem parte de uma trama que envolve, Portadores de uma necessidade especial (Vampiros) que despertam para a condição determinada por uma predisposição genética (a necessidade de sangue), Escravos (doadores), pessoas que despertam fisicamente dependentes dos Portadores, doar o sangue é uma condição vital para eles, e Antagonistas (caçadores) que, assim como os outros dois elementos da trama, despertam, mas para a necessidade de eliminar o Portador, mesmo que não tenham consciência disso.

Divulgação / spectrum
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Achei no blog Lendo&Resenhando um trecho do livro. E como não tenho autorização da autora para postar aqui recomendo que vejam antes de ver essa resenha do Leituras&Devaneios sobre a obra. 

Anya era diferente. Sempre foi. E não apenas pelo fato de ser tímida, recatada, CDF (como diziam os amigos) ou não curtir as mesmas coisas que eles, jovens de sua idade, no auge dos vinte anos. Não, Anya sabia que era diferente. E, na medida do possível, vivia em concordância com tudo o que lhe fora imposto pela necessidade. Tinha um pai adorável e superprotetor, uma avó inflexível, dominadora, mas que a amava sinceramente por ser a única lembrança viva da filha, a mãe que Anya mal conhecera. Frequentava a universidade de gastronomia, era uma perita em aromas e temperos, e conquistara a afeição e a admiração de alguns colegas do sexo oposto, inebriados pelos seus fascinantes olhos de bombons. Mas o que ela não desconfiava é que todas as suas restrições, as aparentes condições de saúde que a tolhiam de uma vida normal na verdade eram apenas a ponta de um iceberg, um gigantesco bloco que veio a tona numa noite, à beira mar, arrastando Anya para um mundo de novas descobertas, cativando-a pelo seu aroma Agridoce. E nesse turbilhão de rodamoinhos do destino, Anya descobriu o “efeito borboleta” que aquela noite provocaria em sua vida. E as novas condições que a acolheriam pelo Ciclo do Despertar. Anya era diferente? Sim. Mas agora ela era bem mais que isso...


Simone O. Marques, autora das magníficas séries Paganus e Crônicas do Reino do Portal, nos surpreende mais uma vez com uma obra de peso, qualidade e incrível criatividade. Aproveitando-se de mitos encravados na psique humana, ela desenvolve uma trama arrebatadora, que o leitor não conseguirá soltar das mãos, ávido pelo desenrolar dos acontecimentos cheios de adrenalina e em ritmo alucinante de narrativa. Utilizando-se de figuras míticas, a autora trabalha, de forma genial, as relações sociais em sua obra. Discute-as em vários níveis, fazendo uso dos elementos metafóricos pertinentes ao gênero da Literatura Fantástica. É impossível não reconhecer, em suas personagens, os diversos tipos de arquétipos que moldam o caráter dos seres humanos. E o fato de estarem revestidos pela aura do fantástico, do imaginário e irreal, torna ainda mais gritante essa percepção, o reconhecimento e até a (auto?) identificação com tais arquétipos.


Aborda as mudanças pelas quais todos passaram, visíveis ou não, relacionando-as diretamente a fatos fantásticos concretos e palpáveis, tornando-os identificáveis e de compreensão imediata ao leitor. E mesmo que não seja imediata, tal informação ficará gravada na memória, emergindo em seu próprio tempo. Junta-se a esse aparato técnico indiscutível a criatividade e talento natos da escritora para contar histórias, e temos o resultado ideal para o bom desempenho de um livro junto aos leitores.


Os acontecimentos giram em torno da personagem de Anya e levarão, em seu rastro, toda uma concepção e visão artística, criada pela autora, de um dos mitos mais antigos e fascinantes da história da literatura: o vampirismo. Uma releitura dramática, poética, sedutora, inteligente e tremendamente atual, atingindo vários pontos da sociedade em seus diversos segmentos. E o pano de fundo escolhido pela autora é a cidade de Florianópolis, em Santa Catarina. Portadores, Mensageiros, Escravos, Tutores, Protetores, Caçadores, Justiceiros, Contaminados e Anarquistas invadem a bela Floripa, criando um painel fértil e constante de aventuras e acontecimentos inusitados. Todos eles desencadeados pelo Ciclo do Despertar, temido por uns e ansiado por outros.

E para cada Despertar, uma nova série de relações se estabelece, uma rede intrínseca e irrevogável em seu ciclo contínuo, iniciado por um Mensageiro, e que arrebata seus protagonistas para uma nova condição de existência, em diversos níveis e comprometimentos. E é em meio aos acontecimentos desencadeados que Anya passa a concentrar ao seu redor o abrigo e a proteção, o amor e a devoção. Mas também despertará o ódio e a cobiça, a ambição e o desejo de matar. E a sequencia dos fatos provará, cada vez mais, a necessidade de Anya em se conhecer, ajustar-se a nova condição, mesmo indesejada. Encarar a verdadeira natureza por trás das “doenças genéticas”, que até então foram a desculpa perfeita para ocultar uma série de segredos sobre ela, sua mãe, e sobre as pessoas que agora invadem sua vida com a firme convicção de protegê-la... Ou destruí-la. Personagens masculinas de personalidades fortes e cativantes, elaboradas e complexas, orbitam Anya, cada qual desejando algo dela. Para o bem ou para o mal. Rafael, Alexandre, Dante, Daniel, Sid, Ivan, Renato, Edgar, homens que vão do desespero ao amor, do desejo a repugnância, do carinho a obsessão, serão responsáveis pelo desenrolar dos mistérios e segredos que cercam a vida da personagem protagonista. E cada nova revelação vem seguida de mais outra, em uma sucessão de acontecimentos que fazem seus protagonistas convergirem inexoravelmente para algo muito maior. E que poderá causar profundas e perigosas modificações no cenário da trama. Ou, nas palavras da autora, “... representa o perigo extremo para um e a esperança desmedida para outros...”


Para Anya, o mar de tempestades e desejos que a invadem será a porta de entrada para a descoberta de uma vida de tentações e sacrifícios, de dores e prazeres, em vários sentidos. O Agridoce sabor da tentação atravessou seu caminho, e dele não há volta. E em meio a muitos perfumes, sempre estará impregnado o cheiro ácido da morte! Mistérios, paixões arrebatadoras, aromas insinuantes, desejos e ambições desmedidas nortearão cada um dos acontecimentos em Agridoce. O Despertar é apenas o início para Anya. E para o leitor...

Tudo em Agridoce convida a descoberta dos desejos, ao explorar dos sentidos, é impossível negar seu apelo, resistir à sedução e ao encanto, envolvido em tenro sabor de chocolate. E não se surpreenda se, ao final, sentir-se também um “escravo”, totalmente entregue ao “portador” do Agridoce sabor de uma sedução. Tente resistir ao pecado da gula. Espero que não tenha sorte... A resenha foi feita pela quase "Madrinha" do Bobagens&LivrosGeorgette Silen.

Informações adicionais >>

- O livro esgotou na Bienal de SP deste ano. E foi lançado em outubro.
- A obra possui uma página com informações e booktrailer. Além de um link para compra. Clique aqui e acesse.




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